Case — Pesquisa Ux sobre lanchonetes de academias de ginástica: Desk Research e Benchmarking
Introdução
Como forma de aprimorar nossas habilidades em pesquisa, nós, Almir Oliveira e Bianca Berkenbrock, graduados em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo, decidimos criar um projeto de pesquisa dentro da linha do Design Thinking sobre cafeterias e lanchonetes de academias de ginástica.
Para desenvolver esta etapa do projeto, optamos por não ficar pensando muito à frente e deixar que os insumos coletados nesta fase nos indicassem qual seria o próximo passo e quais metodologias utilizaríamos em seguida. Desta maneira, acreditamos que a imersão pode se tornar mais genuína e nos trazer respostas mais qualificadas acerca do nosso problema.
A Desk Research e o Bechmarking, que tememos que poderiam não oferecer grandes insumos, mostraram-se ricos em informações úteis para o desenvolvimento da nossa investigação. Encontramos alguns blogs, canais de notícias e sites de empresas especializadas, dentre outros materiais, que nos forneceram bons insumos e reflexões para o nosso trabalho e assim a pesquisa veio se mostrando muito relevante desde os primeiros achados, pois, conforme constatamos, existe grande interesse de frequentadores de academia por serviços de alimentação de qualidade.
A seguir, veremos as informações mais relevantes que encontramos neste período, separadas por site ou, postagem ou vídeo, sendo destrinchados e apresentados aqui os seus pontos mais relevantes para o nosso objeto. Tais informações foram organizadas em um board da ferramenta Miro.com, explorados com anotações em post its e, por fim, segmentados por perfil de notícia. Alguns achados, não explorados nesta primeira parte da investigação, poderão ser usados posteriormente em uma análise usando técnicas de futures design, uma técnica muito interessante que tem por finalidade entender e tentar antecipar tendências de médio prazo, mas ainda vamos refletir sobre a relevância desta para a presente pesquisa.
Análise do conteúdo pesquisado
Abaixo veremos a sequência dos principais artigos que encontramos e dispusemos em uma ordem que parece um funil, ou seja, iniciando com abordagens mais gerais e gradativamente avançando para abordagens mais específicas do tema em estudo.
Sendo assim, começamos com a pesquisa da Deloitte, que apontou para algumas possíveis tendências, dentre as quais podemos destacar para nosso escopo o comprometimento das empresas com um propósito claramente definido, um compromisso holístico com o propósito; o uso de um marketing realmente inclusivo (criando publicidade mais inclusiva, para atender a diversidade de consumidores) e também que mostre que a empresa está de fato comprometida a abordar desigualdades sociais, principalmente, promovendo resultados equitativos; o uso maior da experiência híbrida, ou seja, estar no mundo on-line também, que permitiria maior personalização, conexão e inovação e pensando no público mais jovem, que interagiria mais com as marcas.
Ainda olhando um pouco para fora da janela das academias de ginástica e fazendo uma análise mais ampla de concorrentes para nosso público alvo, vemos que existem mercados análogos ao das suas lanchonetes em outros lugares, mesmo em praças de alimentação de shopping centers. Isto ocorre porque, pelo menos na cidade de São Paulo e em outras grandes capitais do país, os “fast foods saudáveis” vêm ganhando força (até o início do isolamento social da pandemia no começo de 2020). De acordo com matéria da Veja São Paulo do final de 2017, “nos últimos quatro anos”, ou seja, desde 2013, dobrava-se o número de estabelecimentos que ofereciam itens integrais, orgânicos e frescos, com pouco uso de conservantes, mantendo a rapidez no atendimento e oferecendo combos. A matéria também aponta que as pessoas buscavam alimentos que, além de saudáveis, fossem saborosos e variados, e que ingredientes específicos eram usados pensando nas pessoas que praticam atividades físicas, como um acréscimo de Whey Protein. O mercado de comida saudável estava se mostrando promissor, pois “enquanto as redes de fast-food apresentam um crescimento de 9% em 2017, as marcas que oferecem refeições sadias devem ter um aumento de 25% no mesmo período”. Portanto, mesmo para uma cafeteria ou lanchonete de academia, podemos tirar diversas lições de como incrementar e diversificar as opções do cardápio sem exigir grandes investimentos em estrutura; a criatividade e a capacidade de ouvir a demanda de determinado nicho de clientes se mostrou o mais importante e já se provou bem aceito e rentável.
A Saipos também aponta que um bom caminho para o segmento de restaurantes fitness é seguir a linha dos restaurantes naturais ou o conceito de restaurante sustentável. Também sugere a criação de parcerias, a montagem de um cardápio fitness, a localização em um ponto estratégico, a definição do melhor horário de atendimento, pensando nos horários em que mais haveria potenciais clientes, o uso de um sistema delivery, o uso de ingredientes de qualidade, oferecer opções baratas e também caras, prezar por um ótimo sabor, ter um marketing antenado às novidades de mercado, que inove o cardápio com frequência, que trabalhe bem o Instagram, ter as licenças em dia, um ótimo atendimento e algum sistema para restaurantes (o deles, por exemplo).
Outro achado interessante foi do site Gourmet Virtual, que dá dicas gerais de como gerenciar um negócio na área. O primeiro ponto relevante é, se possível, contratar alguém especializado para gerenciar o empreendimento e ter um capital de giro de cerca de três vezes o valor do faturamento mensal estimado. Outro ponto importante refere-se à higiene do local e a qualidade dos alimentos, cruciais para a fidelização da clientela; de outra maneira, este erro, perfeitamente evitável, pode naufragar um investimento de abrir um estabelecimento, muitas vezes pesado economicamente. Por fim, o artigo alerta que o retorno do investimento leva cerca de 24 meses, a depender de fatores não previstos. Esta questão da higiene se mostrou tão importante (como já esperávamos que assim fosse), que foi encontrada a notificação de uma cliente de uma lanchonete de academia no site Reclame Aqui relatando que o estabelecimento trocaria de dono e que ela se preocupava muito que os próximos proprietários mantivessem a mesma variedade, qualidade e frescor dos alimentos, além de tentarem “manter as atendentes no mesmo posto de Trabalho. Uma vez que para construir esse ambiente acolhedor que temos com elas, demanda tempo”.
O programa Sincovat, da TV Band Vale, mostra como funciona uma lanchonete de uma academia do interior do estado de São Paulo, que parte das necessidades apresentadas pelos clientes para definir o cardápio, para que possam comer de maneira saudável, sem ingerir muitas calorias e continuar treinando sem ter mal estar. Ironicamente, as proprietárias do estabelecimento aplicaram princípios da Ux provavelmente sem ter conhecimento da área, como o pilar do usuário no centro dos negócios. Porém, aparentemente não contaram com apoio de nutricionista para desenvolver o cardápio, apenas com o conhecimento e os gostos compartilhados pela clientela.
O Canal Chef Planet no Youtube traz exemplos muito interessantes sobre aproveitamento de espaço em pequenos estabelecimentos, o que é muito importante para esta pesquisa, visto que muitas academias destinam espaços bastante limitados para suas lanchonetes. As boas dicas que a apresentadora dá são, primeiramente, testar a aceitação de produtos pelos clientes. Desta maneira, a loja contará com produtos mais assertivos e não usará do seu pouco espaço com produtos que vendem pouco. Para isso, comprar produtos para revender é mais fácil e eficiente do que produzir para vender. Comida congelada para comer no local ou para levar, que é um desses casos, é um bom diferencial e que pode aumentar o faturamento sem precisar de aumento do espaço. Por fim, ela sugere que o empreendimento tenha um produto que seja o seu carro chefe, que seja marcante para os seus clientes. Por exemplo, um bom produto que seja difícil de ser encontrado em outros lugares, especialmente em restaurantes naturais da região.
A i9 Menu, empresa especializada em criação de menu para restaurantes, tem um artigo muito interessante no seu site explicando pontos essenciais na hora de definir como será o cardápio do estabelecimento, como considerar se este será de uso exclusivo dos alunos e funcionários da academia, procurar conhecer os principais perfis de potenciais clientes, levando-se em conta quais dietas que preferem ou precisam seguir, como vegetarianos, veganos, low carbs, consumo de glúten e de lactose.
O blog Nova Safra também traz dicas interessantes de gêneros alimentícios que podem ser vendidos em empresas do ramo. A primeira, que já é bastante recorrente, é oferecer salgados de massa assada e de preferência assados, pois tendem a ser menos calóricos, além de repositores energéticos e suplementos dentre as opções. Lanches personalizados para dietas restritas (low carb, sem glúten, vegetariano, vegano, sem lactose, detox). “restrições alimentares são um ponto de partida para oferecer lanches especiais e conquistar a clientela. Panqueca de suplemento, tapiocas e alimentos com alto valor proteico são exemplos de opções que muito provavelmente agradarão os frequentadores da academia”, ressalta o artigo. Também são bem vindos “isotônicos, sucos naturais com Whey, tigelas de açaí com seus devidos complementos e vitaminas batidas na hora”.
Considerações finais
Como podemos ver, a Desk Research e o Benchmarking foram bastante robustos e conseguimos informações muito importantes para a criação e manutenção de um café ou uma lanchonete de academia, bem como ideias de produtos e serviços a serem oferecidos, métodos de conceber o espaço, questões de logística e burocráticas e até olhares para outros nichos de mercado que podem ser considerados concorrentes diretos ou fonte de inspiração para quem vai trabalhar com um público tão rigoroso quanto aquele que procura um modo de vida mais saudável ou simplesmente modelar o corpo.
Todo este processo foi fundamental para que pudéssemos entender melhor o nosso objeto pesquisado e, desta maneira, ter melhor visibilidade dos desafios e oportunidades do nosso cliente. Entender melhor o mercado nos ajudará a desenhar a nossa pesquisa daqui para frente e decidir as próximas metodologias a serem aplicadas, a fim de garantir que o nosso cliente tenha processos e serviços mais eficientes e melhor alinhados com as dores e expectativas dos seus parceiros, funcionários e clientes finais.
#uxresearch #servicedesign #userexperience #alimentacaosaudavel