Como podemos ajudar outras pessoas que estão buscando (re)colocação

Almir Oliveira
5 min readJul 6, 2021

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Desde outubro do ano passado, iniciei uma empreitada bastante desafiadora mas, para a minha sorte, bastante exitosa. Eu simplesmente passei a desejar entrar em uma nova área de trabalho que tinha acabado de conhecer, mas pela qual já havia me apaixonado. Eu queria ser um Ux Researcher, ou um pesquisador em experiência do usuário, em bom português.

Apesar de eu já ter um histórico de trabalho e características pessoais que me favoreciam, como ter graduação em Ciências Sociais e já ter trabalhado com Pesquisa de Mercado, a transição se mostrou bastante complexa, pois eu não conhecia muitas coisas da área e não sabia como provar que eu seria capaz de desempenhar um bom trabalho na área.

Foi então que comecei a acionar todos os meus contatos e pedir ajuda aos meus amigos que acreditava que poderiam me ajudar. Mesmo sempre sendo uma pessoa que valoriza a generosidade, nunca esperava que tivesse tanta ajuda de tantas pessoas queridas ou mesmo semidesconhecidas, mas que se mostraram profundamente solícitas quando eu precisei. Por isso e pelos meus valores pessoais, venho fazendo um esforço maior para tentar ajudar outras pessoas a seguirem o mesmo trajeto que eu segui, ainda que encontrarem suas particularidades e, como não poderia ser de outra maneira, aprendi muito tentando ensinar outras pessoas a ingressarem no mundo da Ux e gostaria de compartilhar aqui um pouco desse aprendizado.

Photo by Priscilla Du Preez on Unsplash

Compartilhe a sua trajetória pessoal. Isso pode estimular e apoiar os outros mais do que você imagina.

O meu histórico de trabalho é uma bolha de caos. Passei por várias áreas, mais fracassei do que tive êxito, tentei muitos caminhos diferentes para tentar me enquadrar em uma área que permitisse me sustentar e ter sentimento de realização e, por isso, sempre achei que o meu currículo era inadequado para vagas competitivas. Porém, conversando com outras pessoas, mesmo mais seniores da Ux, descobri que não estou sozinho nesse barco: muitas pessoas passaram por esse processo de tentativa e erro e depois de muitos anos foram se encontrar na vida profissional, após terem trabalhado em áreas desconectadas uma da outra. Aliás, descobri que na área de Design Thinking, a linha mestra da Ux, é altamente valorável o profissional que passou por diversas áreas e até teve experiência com empreendedorismo. Ou seja, o que eu achava que era um dos meus maiores defeitos virou uma ótima carta no meu jogo e só aprendi isso ouvindo outras pessoas.

Conte à sua rede que você conhece uma pessoa que está precisando de uma ajudinha.

Desde as minhas primeiras empreitadas na vida à procura de emprego, descobri que as oportunidades muitas vezes aparecem de onde a gente menos espera, como aquele seu colega de empregos anteriores ou amigo da faculdade que entrou na área que você passou a aspirar, seja alguém que tem contato em uma empresa do seu interesse, ou alguém que sabe onde encontrar boas informações ou bons cursos para você crescer na área. Isso aconteceu diversas vezes na minha vida profissional e eu sempre deixo essa possibilidade no meu radar, tanto para mim, quanto para mobilizar ajuda para outras pessoas.

Mostre e reafirme os valores que o outro tem.

Sabe aquele sentimento de que todos da sala de aula sabem a matéria, menos você? Pois é! Esse sentimento é muito mais comum do que imaginamos e se alastra por vários outros campos da vida. Uma pessoa que está imersa na própria vida e nos próprios problemas muitas vezes não vai enxergar algumas qualidades importantes que tem em si, ou então, não vai conseguir perceber sozinha que tais qualidades podem ajudá-la muito a superar os desafios da vida, como encontrar um emprego em uma área nova, por exemplo. Essa análise externa pode ser muito construtiva para quem está precisando da nossa ajuda.

Seja um ouvido atento à pessoa que está procurando por ajuda.

A escuta é um trabalho fundamental, ainda que silencioso. Por isso, ouça com carinho o que o outro tem a dizer sobre as próprias questões, procure não dar respostas evasivas nem julgar de maneira desnecessária o que o outro tem a dizer, pois o que pode parecer frescura ou bobagem para nós, pode ser um ponto de sensibilidade para quem está se abrindo e buscando soluções. Muitas vezes, uma simples conversa pode nos levar a reflexões muito importantes para aquele momento ou até para a vida.

Mostre proximidade e interesse pela questão do outro, mesmo que o tempo passe.

A maioria de nós sabe como é difícil e angustiante a vida de quem está procurando emprego, especialmente quando o processo leva muitos meses. Nesses momentos, tem dias que acordamos super obstinados, mas em outros dias, acordamos sem vontade nem de sair da cama. Por isso, mesmo que você já tenha conversado longamente com quem te solicitou ajuda, pergunte com alguma regularidade como ela está e se você pode continuar ajudando de alguma maneira, pois muitas vezes, além do looping emocional, recorrer constantemente a ajuda de outros pode ser um processo meio dolorido para quem está fragilizado. Não custa nada mandar uma mensagem perguntando como a pessoa está :)

Por fim, se você já é da área, conte como foi a sua trajetória e como é o seu cotidiano no trabalho.

Mesmo quando a gente estuda arduamente para ingressar em uma carreira, frequentemente vem à nossa cabeça se aquilo tudo é fidedigno à realidade do trabalho. Quais são as limitações no mundo real, até que ponto que tais técnicas são verdadeiramente aplicadas? Enfim, uma série de perguntas que tornam a imagem do trabalho cada vez mais distantes. Por isso, acho bem legal relatar através do próprio olhar um ponto de vista sobre a vida laboral. É uma forma de trazer à realidade e ajudar o outro a modular a sua ansiedade e as suas expectativas.

Estas são apenas algumas dicas que me ocorreram no momento da criação deste artigo. Possivelmente outras ideias me virão à cabeça com o passar do tempo e com novas experiências e eu poderei rever as minhas ideias ou acrescentar novos pontos. Mas quero ressaltar mais uma vez que, dentro de uma situação pertinente e respeitando a privacidade e a sensibilidade do outro, toda ajuda que o outro aceita pode ser de imenso valor e não nos custará muito mais do que o nosso tempo despendido.

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Almir Oliveira
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Written by Almir Oliveira

Cientista Social de formação, Ux Researcher em constante aprendizagem, cinéfilo, apaixonado por comida e culinária, corredor que usa a corrida como terapia.

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