Como e porque escolhi Ux

Almir Oliveira
4 min readJan 6, 2021

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Photo by Daria Nepriakhina on Unsplash

Gerações anteriores às nossas, como os Boomers, não eram muito adeptas a mudanças na vida profissional. Elas existiam, claro, mas frequentemente eram estimuladas por motivos de força maior, como a necessidade de aumentar renda ou de retornar ao mercado de trabalho e assim garantir a subsistência da família.

As gerações que nasceram a partir dos anos 70, encontraram mais oportunidades de educação e trabalho, graças a uma relativa e questionável prosperidade econômica do Brasil e a mudanças tecnológicas e no mercado de trabalho. Tivemos mais oportunidades de educação e de trabalho, mas também encontramos mais dificuldades para ter a própria casa, por exemplo, e claro que comigo não seria diferente. Tive muito mais oportunidades do que os meus pais: comecei tentando fazer Arquitetura, mas acabei me graduando em Ciências Sociais e tive a sorte de amar a graduação do primeiro ao último dia. Fiz estágio na área de Habitação Social na extinta CDHU e sonhei em seguir na área, mas não consegui. Entrei na Pesquisa de Mercado, em princípio a contragosto, mas sem vislumbrar outras opções a curto prazo, e acabei gostando em muitos aspectos, aprendi demais na área, acumulei muitas experiências boas e outras um tanto duras, mas não menos válidas. Ainda assim, achava que ali não era o meu lugar; sentia que faltava algo. Também prestei mestrado e falhei e hoje não sei exatamente o que faria com isso, visto que o Brasil passa por uma crise econômica persistente e uma crise de desvalorização do conhecimento, especialmente do técnico-científico. Empreendi por três anos com uma marca de pães, sendo que eu mesmo criei a maior parte dos meus produtos e guardo muito orgulho deste processo, mas também se mostrou inviável, apesar de todas as tentativas de fazer o projeto vingar, seja com parcerias, participando de feira e eventos, prospectando clientes B2B e B2C. Foi uma experiência única, mas que mostrou o seu esgotamento a ponto de eu constatar que não fazia sentido seguir adiante.

Para mim, sempre pareceu uma coletânea de tentativas frustradas e de derrotas, mas tenho percebido cada vez mais que esse é um processo muito recorrente na vida das pessoas. Não importa as oportunidades que tiveram ou se tiveram experiências bem sucedidas ou não; cada vez mais eu vejo pessoas tentando e arriscando em áreas diferentes da sua formação original ou de períodos anteriores da sua carreira. Não importa se são graduadas em áreas consagradas, como o Direito, ou se se formaram em áreas com mercado mais difícil e limitado, ou mesmo se não fizeram curso técnico ou superior. As pessoas se arriscam mais pelos mais variados motivos e isso não é mais visto como fracasso ou como uma pessoa sem foco. Parece-me que o mercado nos impele a isso. Lembro de um professor de geografia que se orgulhava por ter tido apenas dois empregos na vida: o primeiro como bancário e depois como professor. Hoje, um histórico assim é cada vez mais raro e até mal visto.

Enfim entrei na Ux. Foi quase um susto! Quando vi que precisava me renovar e tocar a vida, pois os pães já se mostraram improváveis sem um bom investimento financeiro, que eu não tinha, veio a pandemia e a ideia de voltar para a Pesquisa de Mercado se tornou mais complicada com o desaquecimento econômico. Por volta de outubro de 2020, resolvi dar ouvidos a uma grande e querida amiga que estava há meses me falando sobre esta área e eu sempre estava por ver os materiais que ela me mandava. Um dia, comecei a ver foi meio que amor à primeira vista! Não me considero uma pessoa lá muito idealista, mas ali o match foi perfeito. Tudo o que eu lia, assistia e ouvia em cursos, blogs, vídeos e podcasts fazia completo sentido para mim e eu vi que indubitavelmente gosto da idéia de ser Ux Researcher. Descobri que tenho hard skills que ajudam bastante, como a formação acadêmica, um inglês de razoável para bom e alguma experiência com pesquisa quali e quanti (valeu, QualiBest!), mas o que mais me atraiu foram os soft skills. Sempre soube e concordei que as nossas características pessoais impactam nas relações de trabalho e até mesmo na qualidade das entregas. Mas as propostas do Design Thinking foram inéditas para mim, como a necessidade de empatia para entender as dores do usuário. Mas o ponto alto foi descobrir que boa parte dessas qualidades me eram natas, pois eram justamente as que os meus amigos, colegas e a minha psicóloga mais ressaltavam em mim, como a própria empatia, a escuta e o gosto por viver e compartilhar em grupo. Descobrir que eu posso fazer algo que eu gosto e sendo exatamente quem eu sou foi o argumento irrefutável para que eu mergulhasse de cabeça na área. Talvez por isso que pela primeira vez na minha vida corporativa eu tive tanto desejo de estudar a fundo a minha área da atuação, a ponto de parecer aquelas pessoas que entram em esquemas de marketing de pirâmide (coitados dos meus amigos!), mas com certeza é empolgação de início. Ou não…

No meio deste turbilhão de informações e nadando contra todas as (im)posibilidades, consegui me inserir no mundo Ux em apenas dois meses com um emprego maravilhoso no qual começarei logo na segunda semana do ano. Sendo assim, pretendo escrever mais uma série de artigos aqui no Medium relatando o meu processo e espero, desta maneira, ajudar e inspirar outras pessoas que estão seguindo por esta jornada tão linda, mas às vezes tão pesada.

Photo by Daniel Thiele on Unsplash

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Almir Oliveira
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Written by Almir Oliveira

Cientista Social de formação, Ux Researcher em constante aprendizagem, cinéfilo, apaixonado por comida e culinária, corredor que usa a corrida como terapia.

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